Conversas inacabadas

21 setembro 2006

Ela (I) - Capítulo 3 - Correntes fortes



Claude Monet.
Falaise à Pourville, 1896.




Aquela primeira história de amor terminou tal como começou … numa viagem. Numa noite em mar alto, sem terra à vista o desejo traiu-as… Ambas sabem hoje que aquele amor terminou tal como tinha começado…sem culpas!

Terminou nessa noite de Verão, de mar calmo…tão calmo como um lago…Ambas embarcaram numa corrente que foi, para “Ela”, forte demais para contrariar…

O que restou?… Este e muitos outros relatos de momentos de intensa sede de vida…e muitas, muitas provas de cumplicidade deixadas pelo laço forte da amizade que as unia e que ainda hoje as une.

“Ela” seguiu a sua vida e a opção que fez naquela noite de correntes fortes mas mar calmo é aquela que ainda hoje pratica… A amiga seguiu a sua vida…e a opção que fez naquela noite de um autêntico milagre de luz…é a que hoje pratica. Ambas amam a vida cheia de cor …mas aquela corrente afastou-as e fê-las remar em direcções diferentes…sempre unidas pelo fio que as prendeu…o da amizade.

15 setembro 2006

Ela (I) - Capítulo 2 – Palavras para quê?...


Alexandre Cabanel – O nascimento de Vénus, 1863








“Se ambas sabemos o que queremos…” e surgiu um beijo…outro e mais outro e muitos outros…e naquele jeito meio desajeitado de responder ao desejo, passaram a noite nos braços uma da outra. Naquela noite acordaram a vida.

No dia seguinte os sorrisos tímidos que trocavam discretamente compensavam o silêncio que se abateu sobre ambas. A intensidade daquela noite e a novidade deixou-as sem palavras…uma sensação de pecado...de sentimento de culpa…a autêntica “sensação de manhã seguinte” deixou-as em silêncio de palavras mas não de olhares…Deixaram então que fossem os olhos “a falar”…quando os corpos tinham dito quase tudo.

“Sempre livres mas unidas por um fio. Palavras para quê?” – foi o trato entre ambas no dia seguinte (escrito num postal…já que estavam mudas).
Hoje, aquela antiga casa de campo parece ter magia porque encerra histórias lindas de amor e porque aquelas paredes cansadas renovam-se em cada novo sorriso de paixão.
Passou-se tempo…que fez crescer o muito que elas se gostavam... que despertou os tantos sorrisos e fez rolar as muitas lágrimas…mas sempre juntas…

12 setembro 2006

Ela (I) - Capítulo 1 – Milagre de luz


Édouard Manet – “La maison de Rueil”


Todas as histórias de amor têm um começo…têm que ter…mas naquele caso, não sei como nem quando tudo começou. Ao procurar o início daquela primeira história de “amor no feminino” não consigo encontrar as palavras que possam descrever como se apaixonam as pessoas…não consigo descobrir o que desperta “aquela química”, porque queima “aquele olhar”, como seduz “aquele sorriso franco”…
Penso que só nos damos conta da paixão quando já é tarde demais para nos desviarmos do seu sabor… e, naquele caso, a paixão entre as duas apareceu de forma tão pura e genuína que nenhuma delas poderia ou ousaria contrariar.

A história da vida de ambas cruza-se numa das várias viagens que fizeram juntas, numa antiga casa de campo. Numa das noites, quando entraram no jardim da casa, foram presenteadas com um dos “cenários” mais lindos da sua vida…no meio da escuridão contemplaram um autêntico milagre de luz…dezenas de “pirilampos” iluminavam com a sua luz intermitente e frágil aqueles recantos de quintal antigo. Estava lindo demais.

Como era hábito de ambas, nas noites perdiam-se nas palavras sem dar conta das horas que passavam. Em cada hora pareciam não caber tantas conversas. Apenas nessa noite, esgotaram-se as palavras…para deixar falar o desejo…

03 setembro 2006

Imaginem só...

Em cartaz..."Imagine me & you" (trad. "Imagina só").
Será que há qualquer coisa a mudar na nossa história?
Este filme, que é apenas uma comédia romântica, dá um empurrão nas mentalidades e baralha todas as possíveis ideias e valores que nos são impostos desde que nascemos.
Deixou-me com um "sorriso de orelha a orelha" o facto de pela primeira vez, em cinema não-alternativo, uma relação gay ter sido considerada como "não menos legítima" face a uma relação hetero. Que me desculpem os que não gostam de ler isto mas o sorriso foi mais forte que eu...
Não deixem de ver...vale a pena pela comédia, pelo romantismo, pelo elenco, e sobretudo...pelo abanão que se leva neste programinha (quase familiar) ao ver que a razão e o coração podem, às vezes, andar de mão dada.