Ela(II) - Capítulo 3 - "Um momento Inesquecível"

Mischa Askenazy (1888-1961) - From my window
Apesar da promessa de ser apenas um momento sem nada esperar…sem nada pedir…deixaram-se levar em vários momentos…como numa dança lenta que marcava o compasso das almas…Tantas vezes se encontraram em segredo e se deixaram entregues a longos abraços de amor, carinho e amizade em cenários improvisados de paixão.
No final de um dos muitos dias vividos em segredo, ”ela” levou-a à estação de comboios despedindo-se com a pressa de quem chegou tarde e perdeu a hora da partida. A correr para conseguir entrar na primeira carruagem do comboio, ouviu um sonoro “Amo-te” a ecoar na estação… Nem queria acreditar…Olhou para trás... e “ela” corria também… Ao entrar na carruagem o comboio iniciou a sua marcha lenta… ”ela” acompanhou até conseguir e, até a vista o permitir, trocaram sonoras declarações e juras de amor… a alto e bom som…(perante os olhares incrédulos dos passageiros mais próximos)… há certas loucuras que despertam sorrisos indescritíveis, daqueles que nos deixam uma dor aguda nos músculos da face, de tão intensos.
Viveram este e outros segredos durante anos… e os sentimentos, por vezes perdidos por não ter ninguém a quem pudesse (verdadeiramente) chamar “seu”… eram, sempre que possível, compensados com o sorriso sereno “dela” e com um longo abraço apertado que tudo fazia esquecer … e entregava-se quantas vezes “ela” a quisesse.
Mas o “sempre que possível” deixou de ser suficiente. E a solidão era muitas vezes mais forte e derrubava todas as esperanças. O amor entre ambas, não tinha espaço, apenas acontecia no tempo e o segredo que, de princípio, alimentou o desejo começou a sufocar…E a lenta espera começou a queimar os sonhos… E o jogo de escondidas arrastava pesares e sentimentos que em nada se conciliavam com a pureza que existe no amor.
O tempo fez o resto… a consciência venceu. Afastaram-se e seguiram vidas separadas, com a distância de segurança que se impunha necessária… A referência a “Um momento inesquecível” numa dedicatória escrita por “ela” num livro oferecido foi o que restou desta história…feita de sentires e silêncios que sufocam…
Nina